FPME promove live com professoras e especialista em educação no Mês das Mulheres

Participaram da transmissão as professoras Gina Vieira Ponte de Albuquerque da SEE/DF e Elika Takimoto do CEFET/RJ, e a diretora-executiva do Instituto Península, Heloisa Morel

A Frente Parlamentar Mista da Educação (FPME) realizou nesta quarta-feira (23), uma live sobre o Mês das Mulheres – desafios da mulher nas profissões ligadas à educação e provável apagão na área de ciências exatas. Estiveram presentes a diretora-executiva do Instituto Península, Heloisa Morel, a professora da SEE/DF e autora do projeto Mulheres Inspiradoras, Gina Vieira Ponte de Albuquerque,  e a professora de física do CEFET/RJ e doutora em filosofia Elika Takimoto.

As convidadas percorreram temas importantes para o desenvolvimento da Educação Brasileira, como a questão de gênero em salas de aula e mulheres cientistas. No mundo, mulheres representam 28% das pesquisadoras, de acordo com a Unesco. Já no Brasil, segundo o Open Box da Ciência, dos cientistas que declararam ter doutorado na Plataforma Lattes, 40,3% são mulheres, mas levantamento do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), de 2017, mostrou que dos 112 pesquisadores sênior, apenas 27 são do sexo feminino. 

De acordo com a Organização das Nações Unidas (ONU), apenas 35% dos estudantes matriculados nas áreas de ciência, tecnologia, engenharia e matemática são mulheres. A situação não é muito diferente no Brasil. Pesquisa realizada pela Open Box da Ciência, do Instituto Serrapilheira, afirma que os homens ainda são maioria nas engenharias (74%) e nas ciências exatas e da Terra (69,9%). 

Para Gina Vieira, que acumula mais de 30 anos de experiência na educação básica, a dificuldade das meninas em escolher carreiras de exatas é uma questão multifatorial. “A gente tem uma cultura profundamente marcada pela cultura patriarcal que ainda coloniza os afetos das meninas para elas acreditarem que são menos capazes”, diz. “Desde a primeira infância, a partir de tecnologias de gênero simbólicos, dizem para menina qual é o espaço que ela pode ocupar, quais são os sonhos que ela pode ter. Então, enquanto a gente dá para o menino o kit do pequeno engenheiro, para as meninas damos boneca, a panelinha, a vassourinha. Nós sinalizamos que ela só pode ocupar o espaço doméstico”, explica. 

“É um problema estrutural. Precisamos mudar a mentalidade daquela família que ainda acredita que é obrigação da menina cuidar do irmão, que é obrigação fazer o trabalho doméstico, que permite que ela tenha menos tempo dedicado aos estudos do que o menino. E a escola também é parte do problema, porque repercute a cultura machista. Temos o discurso de professores dizendo para as meninas que elas não são capazes de aprender matemática, por exemplo”, pontua Gina, que desenvolveu o projeto Mulheres Inspiradoras, agraciado com 15 prêmios, entre eles o 1º Prêmio Ibero-americano de Educação em Direitos Humanos.

De acordo com Elika Takimoto, a questão de gênero também gera desafios para as mulheres que escolhem a área de exatas, sobretudo na graduação e pós-graduação. Como docente, Elika percebe a presença majoritária de homens nos cursos técnicos de exatas, como tecnologia da informação e eletrônica. Por outro lado, há pouquíssimas mulheres nestas classes. “Nós sabemos há muito tempo que não é uma questão cognitiva, é estrutural”, explica. 

Segundo a professora, as obrigações domésticas impostas ao gênero podem dificultar o desenvolvimento acadêmico delas e interferir em escolhas profissionais, sobretudo quando não há rede de apoio. Elika argumenta que a carga mental de responsabilidades com a casa, filhos e família é muito maior para as mulheres. Ou seja, a maioria dos homens tem mais espaço para se dedicar aos estudos, trabalho e até hobbies. “Como é que você vai conseguir fazer uma pesquisa, preparar um artigo, com esse tipo de preocupação? A gente até consegue, mas tem nos custado a saúde”, alega a professora, vencedora do Prêmio Saraiva Literatura e autora de doze livros, dentre eles: Isaac no Mundo das Partículas e Como dialogar com um negacionista.

Diante de tantos desafios impostos às mulheres, Heloisa Morel acredita que a mudança pode ser alcançada por uma transformação no papel e figura do docente e com a criação de políticas públicas focadas em ampliar o acesso estudantil a áreas defasadas, como química, física, biologia e matemática. “O professor não está preparado, não tem condição de dar o melhor para o aluno. Pesquisas mostram uma falta velada de qualificações e especializações para a docência. A maneira como a sociedade não valoriza o professor tem o efeito estudante porque ele quer ir para um lugar onde acha que vai ter um retorno positivo. Precisamos de políticas que mostrem a importância da carreira, mas também de políticas que foquem em um problema específico, como a falta de docentes especializados”, lamenta Heloísa, que é formada em Engenharia Química pela FEI, pós-graduada em Marketing pela ESPM e tem MBA em gestão empresarial na Fundação Getúlio Vargas.  

“Por exemplo, a questão do salário. Um real pode ser o pior salário em algum lugar e o melhor em outro. Às vezes a gente deixa de atrair os estudantes com essas falas corrosivas. Claro que a valorização dos professores passa por um salário adequado, mas o professor quer mais. Ele quer desenvolvimento profissional, perspectiva de carreira, projeto de vida. O docente não é só alguém que entra numa sala de aula e começa a despejar conteúdo, ele guia o desenvolvimento de outros seres humanos e isso é fundamental para evitar a repetição de erros do passado, no futuro”, completa a diretora-executiva do Instituto Península. 

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